O absurdo
Se a razão dominasse a escrita, eu deveria enviar uma página em branco ao editor do jornal — já escrevi isso em outra oportunidade.
Nenhuma palavra; apenas o silêncio da perplexidade, uma folha vazia, pronta para os rabiscos infantis que nos ensinam sobre amar e sonhar.
As linhas não escritas, mantendo a folha imaculada, seriam uma súplica pela paz em tempos de violências plurais.
No entanto, diante da barbárie, que por vezes coloca em xeque o próprio processo civilizatório, é preciso reflexão: o absurdo deve testar a capacidade de indignação de toda a sociedade.
O que escrever sobre a morte do menino Théo? Sinto uma dificuldade imensa para encontrar palavras, talvez seja o caso de rabiscar a coluna com lágrimas. Como alguém — e deixo deliberadamente de usar a palavra “pai” — tenta matar uma criança por esganadura e, depois, consuma o crime arremessando-a do alto de uma ponte?
O alguém seria, então, algo inumano?
O absurdo é completamente destituído de racionalidade. O alguém, logo, é inumano.
Qual o sentido da vida em sociedade quando tamanha crueldade parece derrubar todos os pilares que sustentam a coesão social? Existe outro caminho? Quando deixaremos de testemunhar crimes repugnantes contra inocentes?
As notícias revelam bombas e crianças chamuscadas sob escombros. Em larga escala, observamos a violenta subtração da infância em diversas partes do mundo.
A morte de uma criança, em qualquer circunstância, é uma ferida aberta no coração de todos nós. Até quando suportaremos a irracionalidade dessa violência que inverte a lógica da vida?
A morte de Théo possui sua própria singularidade, especialmente em termos de violência intrafamiliar, mas é também a expressão de uma sociedade com graves problemas, que ainda precisa compreender o quanto tudo isso é uma tragédia coletiva em curso.
A morte de uma criança, em toda a sua brutalidade, é um grito que não pode ser ignorado. É a voz de uma dor que, se não for entendida, pode perpetuar um ciclo de desesperança.
Somos, portanto, todos responsáveis por dar fim a esse ciclo, e o pranto, ao menos agora, é o primeiro passo diante do absurdo.