França mantém oposição a acordo entre União Europeia e Mercosul e exige novas salvaguardas para agricultores

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira (18), em Bruxelas, que o país não dará apoio ao acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul sem a inclusão de novas salvaguardas para proteger os agricultores franceses.
Antes de uma reunião de cúpula da UE, Macron declarou à imprensa que o governo francês considera que os termos atuais do acordo são insuficientes. Segundo ele, a França se opõe a qualquer tentativa de acelerar ou impor a aprovação do pacto comercial com o bloco sul-americano.
O acordo entre União Europeia e Mercosul prevê a redução ou eliminação de tarifas de importação e exportação entre os dois blocos. Caso seja aprovado pelo Conselho Europeu, a assinatura do texto final está prevista para sábado (20), em Foz do Iguaçu, durante a cúpula de chefes de Estado do Mercosul.
Na França, o tratado é visto com resistência por grande parte do setor agrícola, que teme concorrência desleal de produtos latino-americanos, considerados mais baratos e produzidos sob normas ambientais menos rigorosas do que as exigidas na UE. Embora a Comissão Europeia tenha apresentado garantias para proteger setores sensíveis, produtores franceses avaliam que as medidas não são suficientes.
Nesta semana, o Parlamento Europeu aprovou mecanismos de salvaguarda para monitorar o impacto do acordo sobre produtos como carne bovina, aves e açúcar. As medidas permitem a reintrodução de tarifas caso haja desestabilização do mercado europeu, como queda significativa de preços ou aumento expressivo das importações isentas de taxas.
Mesmo com essas proteções, a França mantém a oposição e defende o adiamento da assinatura do acordo. A posição francesa pode ser decisiva no Conselho Europeu, que exige maioria qualificada — apoio de pelo menos 15 dos 27 países do bloco, representando 65% da população da UE — para autorizar a ratificação.
Atualmente, França e Polônia se posicionam contra o tratado, enquanto Bélgica e Áustria demonstram reservas. A Itália surge como peça-chave nas negociações: se alinhar à França, pode ajudar a formar um bloco capaz de barrar o acordo.
Apesar do foco no agronegócio, especialistas destacam que o acordo vai além do comércio agrícola, abrangendo setores como indústria, serviços, investimentos e propriedade intelectual. Países como Alemanha, Espanha e Portugal apoiam a ratificação, ao avaliar que o tratado traz ganhos econômicos e amplia a diversificação comercial da União Europeia.
Se houver aval do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve viajar ao Brasil para formalizar a ratificação do acordo, concluído após mais de 20 anos de negociações entre a UE e o Mercosul, formado por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai.

