Trump, tarifas e o subsolo
A polêmica tarifação imposta por Donald Trump ao Brasil — além das já conhecidas relações ambíguas com a família Bolsonaro, das pressões sobre o STF, das violações de soberania e do protecionismo aos produtos norte-americanos — ganha agora um novo contorno: algo mais estratégico e menos explícito.
O Brasil é uma potência mineral. Detentor de algumas das maiores reservas de nióbio do planeta, além de grafita, lítio e terras raras — elementos essenciais para a produção de semicondutores, baterias, veículos elétricos, turbinas e armamentos — o país ocupa uma posição sensível no tabuleiro geopolítico global. Quem controla a cadeia desses minerais, controla também a vanguarda tecnológica e militar do século XXI.
Atualmente, a China lidera a extração e o refino de terras raras no mundo. Para os Estados Unidos, reduzir essa dependência é uma prioridade estratégica. E é nesse ponto que o Brasil entra em cena: um território vasto, com recursos ainda subexplorados e marcos regulatórios — ambientais e fundiários — vulneráveis a pressões externas e internas.
A possível tarifação de produtos brasileiros, nesse contexto, pode não ser apenas uma retaliação comercial, mas um instrumento de barganha. Na prática, o movimento pressiona o Brasil a rever acordos, flexibilizar regulações e, até mesmo, ceder soberania sobre setores estratégicos, em troca de alívio tarifário ou promessas de investimento.
Não se trata apenas de comércio. Trata-se do futuro da indústria global. A demanda por minerais críticos deve crescer exponencialmente nos próximos anos. E o subsolo brasileiro está no epicentro dessa corrida. Cabe ao país decidir se será protagonista — negociando com inteligência e protegendo seus interesses — ou apenas mais uma peça no jogo das grandes potências.
Por fim, as eleições presidenciais de 2026 interessam, e muito, à política externa dos EUA. Enquanto os brasileiros estarão atentos aos temas de sempre — educação, saúde, segurança — não poderão negligenciar um debate urgente: o destino das riquezas que ainda guardamos em nosso subsolo.