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SANTO ÂNGELO
17 de agosto de 2025
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Opinião

Primeira Lei de Newton

  • junho 3, 2025
  • 2 min read

É curioso como, muitas vezes, o consultório se transforma num confessionário. As queixas chegam não apenas sobre dores, mas sobre a vida. E, com o tempo, aprendi a identificar uma síndrome silenciosa, sem nome oficial nos manuais, mas tão comum quanto a gripe: a estagnação crônica.

É outono. As folhas começam a cair na capital das Missões — aliás, a cidade que escolhi para viver e praticar o que me é tão importante. Descrevo aqui uma situação comum por estas bandas. Chega o paciente e reclama da fadiga constante. Não dorme bem, sente-se frustrado, repete sempre as mesmas palavras com o mesmo tom: “Ainda preciso de mais.” Mas basta algumas perguntas para perceber que ele também não “dá mais de si”. Repete hábitos, repete desculpas, repete lamentos — como um mantra que, em vez de curar, adoece.

Na medicina, aprendi — nas paredes do prédio 26, em Santa Maria — que sintomas recorrentes pedem investigação. Uma dor que persiste não deve ser ignorada. E por que, então, por vezes ignoramos as nossas dores emocionais, que voltam todo dia, no mesmo horário, na mesma rotina, no mesmo suspiro? Talvez porque seja mais fácil reclamar do que agir. A reclamação é imediata, confortável, exige pouco.

Já a ação cobra coragem.

Agir é tratamento. É sair do diagnóstico para o plano terapêutico. É entender que obstáculos não são sentenças, mas etapas. Que o mundo não conspira contra nós; somos nós que, por vezes, conspiramos contra a própria mudança.

E não estou imune. Também me pego reclamando. Também caio na tentação da espera passiva, da culpa externa, da paralisia revestida de justificativas. Mas aprendi com os pacientes — e comigo mesmo — que a repetição da queixa é um remédio vencido. No lugar dela, proponho um novo receituário: um passo por dia. Um gesto de enfrentamento. Um abandono consciente das desculpas.

Não há milagre. Há movimento.

E talvez seja essa a verdadeira cura: não somente um remédio que se toma, mas uma postura que se escolhe. Deixemos a inércia somente na física, com Newton. Movimentemo-nos.

Hoje ainda dá tempo. Vamos?

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NORBERTO WEBER WERLE

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