Pesquisadores encontram reserva de água doce submarina que pode abastecer milhões

Há milhares de anos, o derretimento das geleiras elevou o nível dos oceanos e deixou um segredo guardado no fundo do mar, na região que hoje corresponde ao nordeste dos Estados Unidos.
Quase 50 anos atrás, um navio do governo americano perfurava o solo marinho em busca de petróleo e minerais quando fez uma descoberta inesperada: água doce.
Neste verão no Hemisfério Norte, uma expedição científica internacional voltou ao local, ao largo de Cape Cod, em Massachusetts, e coletou milhares de amostras de um enorme aquífero subterrâneo. Estima-se que a reserva se estenda de Nova Jersey até o estado do Maine.
Segundo Brandon Dugan, geofísico e hidrólogo da Colorado School of Mines e co-líder da missão, trata-se de apenas um dos muitos depósitos de “água doce secreta” encontrados em mares rasos ao redor do mundo — uma possível fonte para enfrentar a crescente escassez global de água. “Precisamos olhar para todas as possibilidades”, afirmou.
A equipe coletou quase 50 mil litros de amostras, que agora serão analisadas em laboratórios internacionais. Os cientistas buscam entender se a água tem origem no derretimento das geleiras, em sistemas subterrâneos ligados ao continente ou em uma combinação dos dois.
O potencial é enorme: o aquífero poderia abastecer uma cidade do porte de Nova York por até 800 anos. Mas também existem desafios. Extrair essa água em larga escala levanta questões sobre custos, impactos ambientais e até sobre quem teria o direito de utilizá-la.
A preocupação é urgente. A ONU prevê que, em cinco anos, a demanda global por água doce deve superar a oferta em 40%. Além disso, reservatórios costeiros já sofrem com a contaminação causada pelo avanço do mar, enquanto setores de alto consumo, como data centers de inteligência artificial e computação em nuvem, ampliam a pressão sobre os recursos hídricos.
Exemplos de estresse hídrico já se multiplicam: em 2018, quase 5 milhões de moradores de Cidade do Cabo, na África do Sul, estiveram à beira de ficar sem água durante uma seca histórica. Pesquisadores acreditam que depósitos semelhantes ao encontrado nos EUA podem existir em diferentes continentes, inclusive na África, Ásia e América do Norte.
A chamada Expedition 501 custou US$ 25 milhões e reuniu cientistas de mais de dez países, com financiamento da Fundação Nacional de Ciências dos EUA e do Consórcio Europeu de Perfuração em Pesquisa Oceânica. Os resultados preliminares sugerem que a reserva é ainda maior do que se previa, com água encontrada em profundidades variadas.

