O “andar de cima” do crime organizado
A recente ofensiva contra o PCC reacendeu um debate central no enfrentamento ao crime organizado: não basta prender executores ou desarticular ações pontuais. O verdadeiro poder dessas facções está no dinheiro. O braço armado impressiona pela violência no cotidiano do cidadão, mas é o braço financeiro que sustenta a engrenagem, corrompe estruturas e perpetua a influência criminosa.
Enquanto o “andar de baixo” do crime — aqueles que puxam o gatilho ou transportam drogas — é facilmente substituível, sobretudo jovens periféricos, o “andar de cima” movimenta bilhões em esquemas de lavagem, contratos fraudulentos e investimentos em setores aparentemente lícitos. É nesse nível que o crime organizado infiltra-se no mercado formal, disputando espaço com empresas regulares e contaminando a economia.
Por isso, sufocar financeiramente as facções deve ser prioridade. Isso exige inteligência integrada em todas as esferas de poder: rastrear fluxos internacionais, monitorar transações suspeitas, cruzar dados bancários e fiscais, além de usar tecnologia de ponta na análise de movimentações financeiras.
A experiência mundial mostra que o desmonte econômico é mais eficaz do que confrontos armados. A máfia italiana, os cartéis mexicanos e agora as facções brasileiras só recuam quando o dinheiro deixa de circular. Sem recursos, o poder de corromper, recrutar e manter estruturas paralelas se esvai.
Ao mesmo tempo, é preciso compreender como o crime organizado recruta jovens nas periferias: oferece pertencimento, renda rápida e uma promessa distorcida de status, em meio à ausência do Estado e à falta de oportunidades. Sem políticas públicas que concorram com essa narrativa — educação de qualidade, emprego, cultura e esporte — a reposição da mão de obra criminosa seguirá automática, alimentando o ciclo de violência, e enganam-se os que acreditam no aprisionamento desses meninos empobrecidos produz algum efeito.
Enfrentar o PCC e outras organizações semelhantes, portanto, não é apenas questão de segurança pública, mas de política econômica e institucional. O verdadeiro golpe contra o crime não está em apreender arsenais, mas em quebrar cofres.