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SANTO ÂNGELO
21 de novembro de 2025
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Saúde

“Nunca se viu uma crise tão grande na medicina”: 51% dos médicos da região Sul já receberam diagnóstico de saúde mental

  • outubro 22, 2025
  • 5 min read
“Nunca se viu uma crise tão grande na medicina”: 51% dos médicos da região Sul já receberam diagnóstico de saúde mental

Cerca de 45% dos médicos brasileiros já enfrentaram problemas de saúde mental. O dado é do levantamento Qualidade de vida dos médicos do Brasil 2025, feito no início do ano pela Afya. No sul do país — Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná — o índice é ainda mais alto: 51%. O cenário preocupa entidades médicas, que associam os números à sobrecarga de trabalho e às crises enfrentadas no RS.

— É um problema recorrente, de muito antes da pandemia. Mas, na pandemia, tivemos muita crise de saúde. E, no ano passado, com as enchentes, isso cresceu de uma forma assustadora. É em todas as fases: na graduação, na pós-graduação, na residência, nos recém-formados e nos médicos de mais idade — afirma Gerson Junqueira Júnior, presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs).

O estudo analisou a prevalência de condições como estresse, depressão, ansiedade e burnout. A pesquisa, realizada de 29 de janeiro a 1º de abril de 2025 com uma amostra de 2.147 médicos brasileiros, também buscou compreender aspectos relacionados à qualidade de vida e hábitos de autocuidado entre esses profissionais.

— O burnout atinge 52% na região Sul nos últimos 12 meses, o segundo maior índice. Nunca se viu uma crise tão grande na medicina, são valores muito altos — defende Ricardo Nogueira, coordenador do Núcleo de Psiquiatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).

Os dados evidenciam diferenças entre as regiões do país no diagnóstico de depressão entre médicos. No Nordeste, 42% dos profissionais afirmam nunca ter apresentado sintomas — a maior proporção do Brasil. No Sul, esse número cai para 31%, o menor índice entre as regiões.

Ainda, 27% dos profissionais do Sul responderam que tratam a doença e fazem acompanhamento com especialista. A média nacional é 22%.    Outros 15% da região disseram que, embora apresentem sintomas de depressão, não estão acompanhando com especialista, enquanto 2% revelaram que têm o diagnóstico, mas não fazem nenhum tratamento. Comparados ao cenário nacional, esses índices estão abaixo da média.

— O que podemos ver? Que, devido ao fato de que, aqui no Sul, nós temos uma capacidade muito grande para tratamento dessas questões, um número grande de profissionais especialistas em psiquiatria, mais pessoas conseguem ajuda — pontua  Nogueira.

Quanto à ansiedade, 35% dos médicos do Sul responderam que têm diagnóstico, fazem tratamento e acompanhamento com especialista. Outros 9% têm o diagnóstico, mas não tratam. A média nacional é 7%.

Considerado um estado de exaustão física e emocional causado por estresse prolongado no trabalho, os dados sobre o burnout também chamam atenção. Cerca de 31% dos médicos da Região Sul apresentam sintomas da condição, mas nunca buscaram ajuda. Somente 4% dos diagnosticados fazem acompanhamento com especialista.

Para os especialistas, os altos índices de adoecimento podem estar ligados a fatores como remuneração insatisfatória, violência no ambiente de trabalho, excesso de demandas, falta de vínculos estáveis e o cansaço acumulado pela rotina intensa da profissão e dos estudos, no caso dos pós-graduandos e residentes.

— São dois grupos. O primeiro engloba os fatores ocupacionais do nosso dia a dia. Plantões, jornadas extenuantes, poucas folgas, jovens com múltiplos vínculos de emprego, que saem de um plantão de 12h e vão para outro, exposição contínua à dor e a morte, violência contra profissionais da saúde. O segundo são os fatores pessoais. O médico costuma ser muito exigente com o seu trabalho, e tem uma pressão de ter zero falhas, além do estigma de ter que parecer que dá conta de tudo — defende o presidente da Amrigs.

Entre os participantes da pesquisa, 45,4% trabalham até 44 horas semanais. Uma parcela significativa atua em jornadas consideradas extensas: 24,7% entre 60 e 74 horas, e 11% ultrapassam 75 horas semanais.

Nogueira acredita que as longas jornadas podem ser explicadas pelas dificuldades financeiras que alguns profissionais passam. Ele conta que muitos médicos relataram que o valor pago pelas horas trabalhadas diminuiu nos últimos anos. Alguns já saem da faculdade com dívidas de financiamentos estudantis:

— Devido ao excesso de número de médicos, a concorrência é desleal. A nossa hora foi diminuindo. E o pessoal, por desespero de ter que pagar as dívidas, acabam trabalhando muito. (…) Outra coisa na medicina é que trabalhamos bastante, mas temos dificuldade de receber. Alguns hospitais estão pagando agora, em outubro, as horas de maio — pondera.

A pesquisa foi apenas com médicos formados. Nogueira e Junqueira Júnior relatam, porém, que essa realidade já atinge os estudantes. Eles citam os casos de desistência e de suicídio motivados pelo estresse da profissão.

— Essa cultura de autocobrança começa já na faculdade e acaba sendo levada para a vida profissional. Temos um núcleo de apoio estudantil que busca acompanhar esses estudantes, que já notamos que têm altos índices de transtorno de ansiedade.

Fonte: GZH 

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Lara Santos

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