Naves imaginárias
No definhar da tarde, bem antes dos primeiros soluços do sol, névoas birutas navegavam sorrateiras sobre as vastidões do pampa, onde as lonjuras tomam formas intermináveis e as variedades de aves e bichos são simplesmente incontáveis, com vastas manadas, bandos, tropas e por aí vai, provendo o seu sustento, cada espécie buscando saciar as necessidades na forma própria, aos olhos dos outros, até pode representar crueldade, porém, específico da qualidade, enquanto umas névoas dissipavam outras surgiam com ares de esperteza, em simbolismo tantos, até mesmo, parecia figurar tangos!
Dentre as névoas sobrevinham imagens mais robustas, dado às distâncias, restava forte impressão de tratar-se de naves, em tons discretos, contendo representações artísticas pré-histórica, o movimento das névoas instigava o imaginário, ora névoa, noutra nave, em ondulações permanentes, sê névoas, seria a ação dos ventos, do movimento das marés, imperioso dizer da beleza flutuante, lindo ao ponto da natureza postar-se estática e silenciosamente expectadora, enquanto a sol adormecia pacientemente, sem lançar qualquer blasfêmia!
O imaginário transpõe os tempos, as distâncias, constrói e edifica cenários, esfacela outros, empreende viagens maravilhosas, realiza festejos irreveláveis, sobe e desce montanhas com facilidade inquietante, governa as próprias ânsias, transmite mensagens com precisão e eloquência, com fluidez e elegância saúda o alvorecer, lança rios de esperanças aos desprovidos dela, avança sobre imaginários alheios com precisão genuína, corteja a realeza com fragrâncias nuas, desprendido, oferece ramalhetes de flores à lua, com incrível naturalidade.
Na gigantesca dimensão do imaginário, há possibilidades hemisféricas para romantizar caminhadas, elevar figuras, magnetizá-las, torná-las heroínas, mumificá-las, emoldurá-las, por igual, transfigurar as belas borboletas em magníficas cantoras, capazes de levar a plateia ao delírio, inexiste “remédio capaz” de impedir o nosso imaginário em expandir a sua criatividade, embora essa virtude, esteja sempre atrelada a nave que pretenda navegar, há as terminantemente proibitivas, cabe ao ser, a escolha desejada da cor, sabor e virtudes – sê nave ou sê névoa, que lhe conduza ao jardim desejado!