Justiça do Trabalho condena dono de haras de Farroupilha que torturou funcionário a pagar R$ 350 mil por danos morais coletivos

O Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) de Farroupilha anunciou nesta quarta-feira (29) uma nova condenação contra Ari Glock Júnior, empresário, veterinário e proprietário de um haras no interior do município. Ele foi sentenciado pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 350 mil por danos morais coletivos.
A decisão, assinada pelo juiz substituto Eduardo Batista Vargas, da Vara do Trabalho de Farroupilha, tem como base os crimes cometidos em agosto de 2021, quando Glock sequestrou, torturou, estuprou e tentou matar um ex-funcionário que suspeitava de ter furtado dinheiro da empresa.
O MPT informou que a defesa do empresário perdeu o prazo para recorrer e, portanto, não poderá apresentar recurso. Procurada, a defesa não respondeu aos contatos até o fechamento desta reportagem.
Condenação anterior e valores acumulados
Em junho deste ano, Glock já havia sido condenado em ação penal movida pelo ex-funcionário. Na ocasião, recebeu pena de 42 anos e 10 meses de prisão em regime fechado pelos crimes de tortura, estupro, sequestro, roubo e tentativa de homicídio.
Além da pena, foi determinado o pagamento de R$ 300 mil de indenização à vítima e R$ 54 mil por danos materiais, ambos com correção monetária e juros. Com a nova sentença, o empresário acumula cerca de R$ 700 mil em valores indenizatórios. O montante de R$ 350 mil definido pelo MPT-RS será destinado a projetos sociais escolhidos pelo órgão.
Vítima ficou incapacitada para o trabalho
Durante o julgamento penal, a defesa da vítima — um homem de 42 anos — afirmou que ele não tem mais condições de trabalhar, situação confirmada por laudo pericial e exame de corpo de delito complementar, que atestaram incapacidade permanente devido às lesões.
Segundo o promotor de Justiça Ronaldo Lara Resende, o homem segue em tratamento psicológico e psiquiátrico pelo SUS, apresenta limitações de movimento e passou por cirurgia na coluna para fixação de cinco segmentos. Os pais, agricultores, precisaram abandonar temporariamente o trabalho rural para cuidar do filho.
Relembre o caso
Em 9 de agosto de 2021, Glock suspeitou que o funcionário havia furtado R$ 20 mil e iniciou uma série de torturas dentro do haras, com o objetivo de obter uma confissão.
A vítima foi amarrada, espancada, submetida a choques elétricos, golpes de facão e disparo de arma de fogo que atingiu o pé. Também sofreu estupro no local. Após as agressões, foi abandonada em via pública e socorrida por populares.
No dia seguinte, mesmo após receber alta hospitalar, o homem foi sequestrado novamente e mantido em cárcere privado, sofrendo novas torturas: queimaduras de cigarro e álcool, dedos prensados com alicate, agulhas sob as unhas, cinco dentes arrancados e cabelos cortados com máquina de tosquia.
Ele foi levado até um penhasco, na Linha Boêmios, onde foi forçado a pular. Sobreviveu e conseguiu pedir socorro. O agressor ainda teria mandado roubar as roupas, documentos e pertences da vítima.
— Esse roteiro, que começa no dia 9 e termina no dia 11 de agosto, com tamanha crueldade e premeditação, é algo que eu nunca havia presenciado em 25 anos de atuação no Tribunal do Júri — relatou o promotor Resende.
Três outros suspeitos, entre eles dois funcionários de Glock, ainda devem ser levados a júri. Segundo o promotor, apenas o empresário participou de todos os atos de violência.

