
Períodos de temperaturas mais baixas e menor exposição ao sol estão associados ao aumento de hospitalizações por esquizofrenia em Porto Alegre. A conclusão é de uma pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), publicada na revista científica Oxford Open Climate Change. Os maiores índices de internação se concentram no outono e no inverno, enquanto o verão registra os menores.
O estudo foi conduzido pelo Núcleo de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Saúde Única da universidade e analisou mais de 9 mil internações por crises psicóticas relacionadas à esquizofrenia entre 2013 e 2023. Os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) foram cruzados com informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e avaliados por meio de técnicas estatísticas e inteligência artificial.
Apesar da associação, a pesquisa não indica relação de causa e efeito, como explica Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, professora da Unisinos e líder do núcleo de pesquisa:
— Estar associado não implica causalidade. Significa que esse fator pode estar junto de outros, influenciando a hospitalização.
Padrão sazonal e microclimas
Os pesquisadores identificaram um padrão sazonal significativo, com picos de hospitalização ligados a baixa exposição solar e temperaturas reduzidas. Trabalhos internacionais já apontavam efeitos climáticos sobre transtornos mentais, embora, em países do Hemisfério Norte, o aumento de internações ocorra no verão.
A pesquisadora Juliana Scherer, que lidera o estudo, destaca a importância de analisar microclimas locais e lembra que há evidências consolidadas sobre o impacto do clima na variação de humor:
— A saúde mental tem se mostrado fortemente associada a elementos climáticos e ambientais.
Possíveis explicações
Embora o estudo não investigue causas diretas, os pesquisadores citam hipóteses que podem explicar a relação, como:
- Alterações na termorregulação de pacientes com esquizofrenia ou em uso de antipsicóticos;
- Influência do ciclo circadiano, regulado pela luz solar;
- Processos inflamatórios e danos celulares provocados por temperaturas extremas;
- Efeitos da umidade do ar no conforto térmico;
- Fatores de vulnerabilidade social e de infraestrutura.
Impacto para políticas públicas
A pesquisa é parte de um projeto maior que investiga como mudanças climáticas afetam a saúde mental em diferentes transtornos. Os autores defendem que variáveis climáticas locais podem funcionar como fatores preditivos, abrindo caminho para políticas públicas de prevenção e adaptação.
Modelos preditivos podem, por exemplo, orientar o aumento de leitos psiquiátricos ou ações de conscientização em períodos de maior risco. Com o método validado, a equipe pretende aprofundar as investigações, incluir outras regiões do país e incorporar aspectos da atenção primária e dos determinantes sociais em saúde.

