Dois tico-ticos
Na floresta dos meus dias, vivem espécies múltiplas em multiplicadas tonalidades de cores, viveres, fazeres, contemplares, divertires, coletares e, aos meus contemplativos olhos, há tanta naturalidade no ser e agir deles, confesso, algo invejável, impondo-me uma pausa na forma do meu agir, que, talvez seja semelhante àquela adotada por meus semelhantes, porque ela destoa dos meios adotados pelas demais espécies animais, onde os chamados “ininteligentes” lecionam aos outros, uma forma harmônica de viver e, em especial, assenhorando-se apenas daquilo que é necessário à vivência cotidiana.
Cada espécie possui forma específica de alavancar os seus meios de sobrevivência, essas particularidades são extremas, permitindo assegurar aos leitores, da existência de espantosas diferenças entre os tico-ticos e os não tico-ticos, seja na revoada para o repouso ou nos cantos que antecedem os alvoreceres, quando compõem a orquestra da mata, em líricos cantos, saudando os primeiros raios do sol e, margeando as montanhas para saudar as várzeas, lançando coloridos de forma tênue, secundado por potencializadas calorias benévolas, aquecendo o planeta na plenitude!
Nos reservados da floresta onde pouso minhas esperanças, confesso da existência de maravilhas e encantos tantos, impondo silêncio até mesmo nos pensares, avolumando a razão e emoção dos olhos subjugados pela terna beleza desta “floresta” encantada pelos encantos alvissareiros enlaçados entre si, ainda que distantes na forma e enlevo de suas atitudes, os olhos meus teimam em pousar perplexos e esbugalhados sobre este feixe miraculoso, aberto em verde espetáculo, desnudando adiante, os contrastes avultantes, amainados pela docilidade dos amanheceres!!
Abrem-se os lençóis do dia a dia enquanto os tico-ticos tiqueteiam sobre a relva encrustada de arbustos, saltitam quase harmoniosamente, por seus gestos, extremos em harmonia, mas tico-ticos, são tico-ticos, ainda que irmanados, doam-se em atritos gigantescos, ocorre que esses passaritos pequeninos, teimam e em tira-teimas, guerreiam na busca de galhos, estranho isso, paz e guerra, vão a luta e realizam alianças, faccionam-se, sempre na defesa de seu tico-tico “mestre,” senhor de todas as riquezas dos bosques e de todos os bosqueiros, ah, minha floresta está contaminada. Tico-ticos – vamos beber fel!!!
