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SANTO ÂNGELO
24 de agosto de 2025
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Opinião

A força de acreditar

  • agosto 22, 2025
  • 3 min read

Há quem diga que acreditar é coisa de gente ingênua. Que é melhor se apoiar apenas no que se pode medir, pesar, comprovar. Mas a vida não cabe em planilhas nem em protocolos. Se fosse assim, eu, como neurologista, jamais teria visto tantos pacientes melhorarem não apenas pelo remédio, mas pela confiança que depositaram naquilo que faziam.

Crer é mais do que ter fé religiosa, embora ela também tenha seu lugar importantíssimo e inabalável. Crer é dar espaço para o “algo a mais”, para o adicional que não se escreve em laudos nem em receitas, mas que sustenta a caminhada. É a confiança que o atleta tem antes de uma corrida. É a esperança que move uma mãe quando o filho está doente. É o olhar de quem acredita que o amanhã pode ser diferente, mesmo quando o hoje está duro.

Do ponto de vista do cérebro, acreditar não é pouca coisa. A ciência mostra que a fé, a esperança e o otimismo ativam áreas ligadas ao prazer, reduzem níveis de estresse e modulam a percepção da dor. Já vi pacientes que, ao acreditarem que podiam melhorar, engajaram-se mais nos tratamentos, seguiram de forma mais disciplinada e, com isso, colhem resultados maiores. Não porque a doença deixou de existir, mas porque a forma de enfrentá-la mudou. Olhando como uma nova oportunidade. Sem vitimismo.

O cético radical costuma enxergar apenas a metade prática do copo. O pragmatismo excessivo tira o brilho da vida, porque reduz tudo ao útil, ao imediato, ao mensurável. Mas o ser humano não é máquina. Precisa de símbolos, de histórias, de sonhos. É isso que dá sentido às batalhas diárias.

Um exemplo simples: quem já viu uma criança segurar firme a mão do pai na travessia da rua sabe que não é apenas o corpo que atravessa em segurança. É a confiança, a certeza de estar protegido. E essa sensação, ainda que não se pese em quilos, molda o cérebro, fortalece emoções e constrói memórias de segurança.

Outro exemplo aparece nos meus pacientes estudantes que entram para fazer uma prova acreditando que são capazes O conteúdo pode ser o mesmo, mas o resultado costuma ser diferente. Já vi alunos zerarem provas, apesar do grande conhecimento. Apenas com uma simples conversa, recheada de empoderamento, também os vi repetirem o mesmo teste e o 10 aparecer. A confiança não responde a questão por ele, mas muda a forma como ele encara o desafio.

Acreditar é permitir que o invisível também tenha valor. Não é negar a ciência, mas reconhecê-la como parte de um todo maior. É entender que saúde mental não se sustenta apenas de diagnósticos e medicações, mas também daquilo que não cabe nos exames: esperança, confiança, sentido.

Por isso, quando falo a meus pacientes sobre a importância de crer, não peço que fechem os olhos para a realidade. Peço que abram espaço para o extraordinário. Porque a vida não é só sobrevivência. É também a arte de caminhar com esperança.

 

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NORBERTO WEBER WERLE

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