A folha da vida
A folha em branco, sem muito propósito, estava sobre a mesa. Um pequeno espaço para uma poesia, talvez versos de amor. O papel em branco pode ser a vida no fabuloso mundo das metáforas.
A folha está em branco no nascimento? As linhas já estão escritas, sem que possamos perceber o conteúdo do futuro? Tudo pode ser escrito? Existem limites para a criação da vida?
A folha pode ser o infinito, que começa ainda no ventre materno. Se bem que as escolhas dos pais devem habitar algum cantinho do papel imaculado, quando, de fato, começou o texto.
A folha, talvez, seja somente um formulário com inúmeros campos aguardando um discreto “x”: gênero, escolaridade, feliz, infeliz, triste, alegre, pobre, rico, negro, branco, noite, dia, etc…, sem muito espaço para nossas ideias e emoções.
O tempo para escrever a vida é complexo. Colocar a vida em uma folha modelo A4 não deve ser simples, embora existam vidas de um parágrafo, ou poucas linhas.
Os erros podem ser apagados por uma inclemente borracha?
Pronto.
Ponto final.
A redação da vida chegou ao fim. Entrego o papel da vida que, em alguns meses, será esquecido no depósito das vidas insignificantes. Nem todas as vidas serão imortalizadas; nem todos conseguem escrever algo digno de ser considerado um legado para a humanidade.
Calma lá!
A vida não está apenas nas palavras explicitamente desenhadas; também existem as entrelinhas. A beleza da vida pode ser revelada apenas no apertado espaço entre as linhas retas, e a tristeza da vida, nas profundezas dos silêncios invisíveis.
“Senhor, por favor, eu preciso de outra folha em branco, quero começar tudo de novo.”
A lágrima cansada borrou a última palavra. Ninguém saberá o final daquela épica história. A hercúlea batalha da vida sem testemunhas, sem saudades.
Reticências.
Terminou com três pontinhos…
A vida não é um texto que se encerra na última linha escrita; ela é um fluxo contínuo, onde as linhas e entrelinhas formam a introdução de uma nova e singular história.
A vida…