A elite dos vampiros

O problema, inicialmente, foi o indígena, que não se conformou à ideologia da cruz e ao trabalho estabelecido pelo civilizador.

Depois, embora ninguém conte sobre o desmonte da classe trabalhadora negra, sem utilidade como “coisa”, o negro tornou-se o problema para o desenvolvimento brasileiro – é o que dizia o médico Nina Rodrigues, efígie do determinismo biológico brasileiro.
Não muito depois, sob a ameaça do comunismo, que em devaneios fantasmagóricos recrudesceu faz pouco tempo, um certo grupo tentou tornar o Brasil mero quintal estadunidense, também retrocedendo aos devaneios coturnais.
O atraso dos trópicos, como uma febre endêmica, parece não ter fim.
Quem é o culpado desse país não dar certo?
Será o povo, representado pelo cidadão comum que, como Dona Maria, em versos de Emicida, embarca no ônibus antes de o sol nascer, uma espécie de vírus responsável pela falência tupiniquim.
Vamos de Mangueira:
“Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar”
O velho e bom burguês, dono de tudo, pagou 1 bilhão de propina, conforme noticiado em recente caso de sonegação fiscal. Mario de Andrade, em versos:

“Oh! Purée de batatas morais!”
O bom velhinho vendedor de remédios, ao que tudo indica, produz efeitos colaterais não relacionados na bula.
Não sabemos o tamanho da sonegação, mas sabemos que é prática celebrada por nossa elite pleonéxica, que não se contenta com menos que tudo, nem que seja à força,  de capatazes, das polícias, dos militares ou de outras instituições parceiras.
O Brasil e o povo brasileiro não importam, a não ser que lhe sirvam a baixo custo, pensando ser patrão. E temos os empreendedores de si, o ainda escravo que pensa ser patrão para melhor se identificar com o senhor de quem segue servo.
Em fragatas ou jatinhos, nossos senhores nunca esconderam sua disposição para abandonar a terra que os enriqueceu assim que a exaurirem. Já eram capitalistas antes da coisa ter nome.
A elite brasileira, sob o império da cruz, em valores da sua própria família, repele absolutamente um país voltado ao bem comum.
A história, então, é a seguinte: em consensos republicanos, escravocratas e democráticos, tudo junto e misturado, seguimos vampirizados pela pior elite do mundo.

[Coautoria: Domingos Barroso da Costa]