Promessas recicladas
A COP30 chegou ao Brasil cercada de expectativas — e de um cansaço crescente. A cada ano, chefes de Estado e negociadores desembarcam em aeroportos diferentes para repetir as mesmas frases, assinar compromissos ligeiramente reembalados e voltar para casa sem que as curvas de emissões, desmatamento ou aquecimento deem qualquer sinal de inversão.
O encontro em Belém, entretanto, carrega uma responsabilidade maior: realizar, enfim, o que as 29 conferências anteriores apenas ensaiaram.
O planeta está mais quente, mais seco, mais instável. Incêndios devastam regiões antes consideradas seguras; cidades costeiras enfrentam inundações constantes; populações inteiras se deslocam em busca de água. E, ainda assim, seguimos presos à economia fóssil como se dependêssemos dela para sobreviver — quando, na verdade, dependemos justamente do contrário.
O que se espera de uma COP sediada na Amazônia é que ela vá além do ritual diplomático e encare o óbvio: não existe plano climático consistente sem enfrentar o consumo global de combustíveis fósseis e sem proteger os ecossistemas que ainda funcionam.
Mas a realidade é dura. Enquanto governos discutem metas ambientais, empresas petrolíferas ampliam investimentos, e países ricos continuam relutantes em financiar a transição nos países pobres — justamente os que menos poluem e mais sofrem.
A COP30 deveria representar um corte definitivo com o faz-de-conta climático. Belém, com suas contradições — da riqueza cultural à desigualdade histórica, da floresta exuberante aos alertas de desmatamento — é o palco ideal para lembrar ao mundo que o relógio climático não espera a diplomacia amadurecer.
Todavia, sem metas obrigatórias, sem cronogramas claros e sem coragem política, continuaremos transformando conferências em espetáculos de boa intenção.
O mundo não precisa de mais discursos emocionados sobre “salvar o planeta”. Precisa de ações que custam caro, que mexem com interesses poderosos e que exigem que países desenvolvidos assumam, enfim, sua responsabilidade histórica.
A COP30 tem a chance de ser um ponto de virada. Se falhar, será apenas mais uma edição na longa lista de oportunidades desperdiçadas — e o colapso ambiental, este sim, não fará concessões.

