Megaoperação contra o Comando Vermelho deixa ao menos 60 mortos e 81 presos no Rio de Janeiro

Uma megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) deixou ao menos 60 mortos, incluindo quatro policiais, e 81 pessoas presas nesta terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo o governo estadual, trata-se da operação mais letal da história do estado.
A ação faz parte da Operação Contenção, iniciativa permanente de combate à expansão do CV em territórios fluminenses. Cerca de 2.500 agentes das forças de segurança participaram da ofensiva, que cumpriu 100 mandados de prisão.
Durante a chegada das equipes, ainda na madrugada, traficantes reagiram com tiros e barricadas em chamas. Vídeos registraram quase 200 disparos em um minuto. Por causa dos confrontos, o Centro de Operações e Resiliência (COR) elevou o nível operacional da cidade para 2, em uma escala de 5, e a Polícia Militar colocou todo o efetivo nas ruas.
Confrontos e represálias
No início da tarde, houve atos de represália em diferentes pontos da capital, com barricadas e veículos incendiados na Linha Amarela, na Grajaú-Jacarepaguá e na Rua Dias da Cruz, no Méier.
Até a última atualização, a operação ainda estava em andamento, com relatos de novos confrontos.
Entre os mortos, segundo o Palácio Guanabara, há dois policiais civis e dois policiais militares. Os demais 56 mortos seriam traficantes que reagiram à ação.
Três civis foram feridos: um homem em situação de rua atingido por bala perdida, uma mulher ferida dentro de uma academia e outro homem baleado em um ferro-velho.
Prisões e apreensões
Entre os 81 presos, está Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão do Quitungo, apontado como um dos chefes do CV na região. Outro capturado é Nicolas Fernandes Soares, suspeito de atuar como operador financeiro de Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, um dos principais líderes da facção.
As forças de segurança apreenderam 75 fuzis, duas pistolas e nove motocicletas. A Polícia Civil informou ainda que criminosos usaram drones para lançar explosivos e fugiram em grupo pela parte alta da comunidade, em cenas que lembram a ocupação do Alemão em 2010.
Impactos na cidade
Devido à violência, escolas e postos de saúde suspenderam o atendimento. Segundo as prefeituras, 28 escolas não abriram no Complexo do Alemão, 17 na Penha e uma da rede estadual também foi fechada. Cinco unidades de saúde deixaram de funcionar e uma clínica da família interrompeu visitas domiciliares.
A Rio Ônibus desviou 12 linhas preventivamente para garantir a segurança de passageiros e rodoviários.
Declarações oficiais
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que a operação foi planejada com antecedência e executada sem apoio do governo federal.
“Toda essa logística é do próprio estado. São aproximadamente nove milhões de metros quadrados de desordem no Rio de Janeiro. Lamentamos profundamente as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária, planejada e que vai continuar”, declarou.
Segundo ele, cerca de 280 mil pessoas vivem nas áreas afetadas pela operação.
Investigações e denúncias
A ofensiva contou com promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e foi deflagrada após um ano de investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Parte dos alvos é de outros estados, como Bahia, Espírito Santo e Pará.
O Gaeco/MPRJ denunciou 67 pessoas por associação para o tráfico, e três homens por tortura. Segundo os promotores, o Complexo da Penha se tornou um dos principais polos de escoamento de drogas e armas do Comando Vermelho, servindo de base para a expansão da facção na Zona Oeste.
O MPRJ aponta Edgar Alves de Andrade (Doca) como principal liderança do grupo, ao lado de Pedro Paulo Guedes (Pedro Bala), Carlos Costa Neves (Gadernal) e Washington Cesar Braga da Silva (Grandão).
“Eles emitem ordens sobre a comercialização de drogas, determinam as escalas de criminosos e ordenam execuções de quem contraria seus interesses”, informou a promotoria.
A operação segue em andamento, com reforço policial nas regiões do Alemão e da Penha.

