Vendaval na madrugada
Em arremedos de fúria, o vento soltou-se das rédeas que o aprisionavam e desceu pelo despenhadeiro, soltando baforadas amedrontadoras, ao longe tinha-se a impressão de tropelias de manadas de milhares de potros xucro, ainda no primeiro enfrentamento ocorrido com a mataria densa de árvores gigantes, ocorreu um entrechoque renhido quedando árvores, centenas restaram retorcidas, algumas sequer deixaram resíduos de folhas, entretanto, como ocorre em todo embate, houve quem resistisse valentemente, deixando o vento surpreso e desconfiado da própria imponência.
O dia seguinte fez-se moço, em sol pujante, redondo em sorrisos e radiante em olhares, o prosador, surpreso e estupefato negava-se em acreditar no que estava vivenciando, de forma alguma quis acreditar na calmaria que os olhos estavam a presenciar, porque ainda permanecia incrédulo e, estarrecido ficara ao relembrar os acontecimentos da noite anterior, decidiu-se em não abrir a porta, pois, toda beleza dita, avistara da janelinha de palmo e meio ao quadrado, do velho ranchito de chão batido, porque ainda sentia-se amedrontado, dos horrores vivenciados na presença do breu!
Exitou! Não, nunca mais vou abrir a porta do velho abrigo, embora o rancho vivia “a lo largo,” com frestas imensas, somadas somente as de uma lateral, daria a largura de uma tábua de trinta centímetros, mas entrando pelas frinchas o vento zunia na quincha e as próprias frestas repartiam-no, dando a impressão de serem questões estratégicas do campesino coxilheiro, por inocência ou sabedoria campechana, assim erguera seu palácio, dotado de todos os elementos necessários ao bem viver, deu-se conta de olhar por uma aresta certificando-se do laço esticado, ah, disse: foi ele que segurou meu ranchito, na tempestade!
O sol posto poncho do pobre, já estava nas grimpas do infinito, levando a benção aos cidadãos do mundo, estes, obrando em seus ofícios, na vastidão a boiada pastava, corcéis disputando o comando da manada, nuvens sorrateiras dançando no largo, quando de supetão, como por encanto, o “xucro” em seu catre de palha milho, ouve os sons dos sinos anunciando o meio-dia, abre os olhos com todo vagar, assustadiço, mergulha os olhos na rudeza, vê-se em seu quitinete, o ventilar com duas pás e meia, manca não manca, amarrado com um fio ao teto… era o vendaval da madrugada!

