Peça arqueológica rara é encontrada em São Luiz Gonzaga e pode ter até dois mil anos

Uma escavação arqueológica realizada em julho, em um lote urbano de São Luiz Gonzaga, resultou na descoberta de uma peça rara e de significativo valor histórico. A investigação integrou um trabalho de inspeção para mapeamento e resgate de vestígios, exigido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) antes da liberação do terreno para a construção de uma nova obra.
A descoberta foi feita pela arqueóloga Raquel Rech e pela equipe do Museu Arqueológico de São Luiz Gonzaga. O artefato é uma pequena Yapepo, panela utilizada no preparo de alimentos, que apresenta características pré-coloniais e foi confeccionada com a mesma técnica utilizada pelos guarani antes do contato com os jesuítas.
Segundo Raquel, os tupi-guarani migraram da região amazônica para o Sul há cerca de dois mil anos, cabendo às mulheres a tarefa de produzir peças de cerâmica. Elas moldavam os potes com roletes de argila e aplicavam diferentes técnicas decorativas, como marcas de unhas, beliscões, incisões e escovados com palha de milho.
O exemplar encontrado apresenta um aplique ondulado típico de cerâmicas arqueológicas da região amazônica, mas que, até agora, não havia sido registrado no Rio Grande do Sul, segundo a bibliografia disponível. Essa singularidade, somada a outros elementos técnicos, sugere que a peça possa ter até dois milênios de antiguidade.
Raquel explica que a peça não é característica do período missioneiro. Após o contato com os jesuítas, a produção cerâmica entre os povos indígenas mudou: os homens passaram a fabricar potes em maior escala nas olarias das reduções, com superfícies mais lisas e regulares, frequentemente marcadas pelo uso do torno. Ainda assim, evidências indicam que as técnicas tradicionais e a produção no torno coexistiram nas comunidades missioneiras.
A Redução Jesuítica de San Luis foi fundada em 1687 e permaneceu ativa até a Guerra Guaranítica (1753-1756). Por isso, a peça encontrada apresenta uma ampla margem de datação, podendo ser tanto do período pré-colonial quanto dos últimos anos de funcionamento da redução.
O achado ocorreu em uma área que, no período missioneiro, abrigava casas indígenas, configurando um contexto residencial dentro do sítio arqueológico que se estende por 12 quadras ao redor da Praça Matriz. Conforme Raquel Rech, as escavações fazem parte de um esforço contínuo para atender às exigências do Iphan e preservar o patrimônio arqueológico da cidade antes de novas construções.
Foto: Divulgação/Raquel Rech
Fonte: Rádio Missioneira