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SANTO ÂNGELO
18 de agosto de 2025
Rádio AO VIVO
Opinião

Quando cada segundo custava

  • julho 18, 2025
  • 3 min read

Dia desses encontrei telefones antigos ainda guardados na despensa e no porão.  Fixos, de discar arrodeando com o dedo. Outro sem botão. Era para ligar para a central e pedir ligação para alguém. Outro mais moderno. Tinha botões. Eu tenho orgulho de ter vivido isso. Jovem ou não, nasci em Pirapó nos idos anos 90, com orgulho onde a tecnologia por vezes demorava para chegar.

Alguém aí lembra quando fazer uma ligação era um evento com hora marcada, ensaio prévio e cálculo mental? Não era só discar. Era invocar coragem, olhar o relógio, respirar fundo e torcer para a pessoa atender logo. Porque o tempo, literalmente, era dinheiro.

A ligação mal começava e a conta já vinha correndo no visor do telefone fixo:
03… 04… 05 segundos.

E a gente suando frio, pensando:“Vai, fulano, atende logo que meu pulso já tá caindo!”

Aliás, “cair o pulso” era uma expressão técnica, digna de engenheiro de telecomunicações. Era o momento em que a ligação virava cobrança real. Tipo: “Agora sim, meu querido, você está gastando dinheiro de verdade. Siga falando, mas consciente do rombo.”

Tinha gente que cronometrava amor.

— “Oi, amor, só liguei pra dizer que te amo. Já tô desligando pra não cair pulso.”

Isso, meus amigos, era romantismo com senso econômico.

Mas olha que curioso: naquela época, como as ligações custavam, a gente pensava antes de ligar. Escolhia bem as palavras. Se preparava. A ligação tinha peso, tinha valor. Cada segundo era precioso, porque cada segundo era cobrado.

Hoje, com tudo “ilimitado”, ligação virou um susto. O celular toca e a gente pensa:
— “Quem ousa me ligar em pleno 2025?”

Como se ligação fosse quase um atentado à nossa paz digital.

E aí vem a virada da crônica: talvez o valor das ligações não estivesse no preço por segundo… mas no respeito pelo tempo do outro. Na atenção. No preparo.
Na intenção de fazer valer cada palavra.

Talvez fosse bom que a vida cobrasse por segundo de novo. Quem sabe assim a gente prestasse mais atenção no tempo que rouba dos outros. E no tempo que os outros generosamente nos doam quando nos ligam só pra perguntar:— “Tá tudo bem por aí?”

Porque no fim das contas, não era o pulso telefônico que caía. Era a ficha.A ficha de que ligar pra alguém é um gesto de presença.

É dizer: “Você importa. E eu pensei em você com tempo e intenção.”

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NORBERTO WEBER WERLE

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