Discussão sobre prestação de contas cria impasse sobre recurso para o Santo Ângelo em Dança

De 13 a 16 de agosto, Santo Ângelo sediará a 19ª edição do Santo Ângelo em Dança, festival que costuma receber grande público e promove a ocupação significativa na rede hoteleira. O evento será realizado no Centro Municipal de Eventos Hélio Costa de Oliveira, o antigo Sesi.
Entretanto, o futuro do evento está em risco. Essa é a perspectiva apresentada pelo produtor do Santo Ângelo em Dança, Douglas Ravadielli. A dúvida a respeito da continuidade do evento está ligada ao apoio do poder público municipal, segundo Ravadielli. Existe um impasse em torno do repasse de recursos por parte da Secretaria Municipal de Cultura.
O promotor do evento diz que estava buscando auxílio de R$ 30 mil e mais a isenção da taxa de aluguel do antigo Sesi, que é de R$ 10 mil. Entretanto, alegações quanto a prestação de contas do evento do ano passado estariam impedindo o alcance do auxílio por parte da administração municipal.
Conta que em 2023, recebeu do poder público R$ 50,3 mil e no ano passado foram R$ 30 mil, recurso que custeou a sonorização do festival e sua atividade como produtor. Salienta que prestou contas do uso do recurso para essas finalidades, mas que agora a Secretaria de Cultura estaria exigindo que tivesse sido feita uma prestação de contas sobre os ingressos vendidos. “Sempre ficou claro que seriam cobrados ingressos. O custo do evento gira em torno de R$ 200 mil. Alegam ainda que não foi ofertada a meia entrada, porém, essa é uma exigência para evento público e não privado. E, mesmo assim, em várias situações nós possibilitamos ingressos mais baratos”.
Para Ravadielli a situação é clara. Ele prestou as contas devidas do evento passado e não estaria sujeito a observação sobre os ingressos. “Comprovei o pagamento do som e da minha parte apresentei nota já que sou Microempreendedor Individual (MEI). Tenho todos os documentos”, relata. Indaga ainda que se não tivesse prestado contas “como a Secretaria teria fechado as contas do ano passado?”
APOIO E ECONOMIA
Douglas Ravadielli observa que sempre recebeu apoio do poder público municipal. “Da primeira até a 16ª edição recebi apoio com a cedência do espaço e a disponibilização do som. Nas duas últimas o auxílio veio com dinheiro. Agora estão complicando”.
Lamenta que esse tipo de atitude coloca em xeque a continuidade do festival. “São 19 edições. Neste ano, garanti a realização com outras situações, mas o apoio do poder público é fundamental, até para valorizar a promoção”, comenta, acrescentando que muitos dos grupos que vem a Santo Ângelo observam que gostariam de ter em suas cidades um evento como o festival da Capital das Missões.
No seu entendimento, o caso mostra também uma falta de sensibilidade dos atuais gestores da Cultura local. Justifica afirmando que o festival costuma trazer um grande número de visitantes. “O público sempre foi expressivo, de mais de três mil pessoas, em sua imensa maioria formado por pessoas de outras cidades. A rede hoteleira recebe um movimento altamente significativo e essas pessoas consomem nos bares e restaurantes, sem contar a economia popular que se forma no em torno do local. Por tudo isso, ainda creio que o bom senso vá imperar”,frisa.
Problema pessoal é apontado como motivo
Douglas Ravadielli acredita que além das alegadas questões da legislação, a negativa para a concessão de apoio pela Prefeitura ao Santo Ângelo em Dança está ligada a um problema pessoal entre ele e o secretário Edmilson Pretto.
Ravadielli contou que a alguns freqüentou uma aula experimental de Muay Thai em academia comandada por Edimilson. “Fui treinado por um aluno que não tinha formação em Educação Física e acabei fraturando a mão”. Observa que essa situação gerou uma ação judicial. Por falta de testemunhas, a ação foi encerrada, mas Ravadielli alega que a lesão foi séria. “Isso gerou essa animosidade”.
Mesmo com a alegação de problema pessoal e dificuldades na discussão com os membros da administração municipal, Ravadielli estar disposto a reabrir o diálogo, buscando uma solução. “Nos anos anteriores tivemos discussões, mas foi encontrada a solução. Entendo que a questão não está ligada aos prefeitos, mas sim a quem integra a equipe que deveria buscar uma maneira de auxiliar um evento que destaca Santo Ângelo e não prejudicar”.
Evento nasceu do sonho de infância
Apaixonado pela dança, Ravadielli se profissionalizou, sendo bailarino com formação em dança clássica e contemporânea pela Escola do Teatro Bolshoi. Criou o Santo Ângelo em Dança para divulgar a sua arte na sua terra, fomentando a cultura da dança. Ao longo dos anos o festival se consolidou, sendo hoje referência para grupos gaúchos e de outros estados.
Grandes nomes da dança brasileira já estiveram em Santo Ângelo por conta do evento. Ana Botafogo, considerada a maior bailarina brasileira, esteve na segunda edição, em 2007. Neste ano, como juradosMônica Gross, do Bolshoi, Livia Oliveira e Jean Guerra. O público esperado é de mais de 3,5 mil pessoas.
Serão mais de 220 apresentações de 15 grupos que disputam a mostra competitiva em balé clássico, jazz, danças urbanas, contemporâneas e folclore, entre outros. Ingressos antecipados podem ser adquiridos por meio do telefone (55) 98425-4928.
Secretário de Cultura afirma que negativa está embasada legalmente
Procurado pela reportagem do Grupo Missões, o secretário municipal de Cultura, Edimilson Pretto, apresentou sua versão a respeito do aporte de recursos para o Santo Ângelo em Dança em nota oficial, também publicada nas redes sociais.
De acordo com o secretário, o indeferimento do pedido de recursos para o Santo Ângelo em Dança, foi tomado após “criteriosa análise, fundamenta-se em persistentes inconformidades na prestação de contas de projetos anteriores, as quais se arrastam desde o ano passado, quando o último projeto foi aprovado com ressalvas, condicionado a ajustes neste ano”.
Na nota, Edimilson afirma que e “embora o projeto possua inegável potencial cultural para Santo Ângelo, não atendeu aos requisitos mandatórios de prestação de contas, o que, lamentavelmente, impossibilitou a liberação dos valores solicitados”.
Também salienta que a Prefeitura, reconhecendo a importância do evento para a cultura local, está apoiando o projeto com a disponibilização do espaço mediante a cobrança de taxas, em observância à legislação aplicável, por um período de dez dias.
“Lamentamos profundamente qualquer desconforto gerado por esta situação. Foram realizadas diversas reuniões e oferecido amplo suporte técnico ao proponente, com o intuito de que o projeto fosse integralmente adequado às exigências legais. Houve um considerável investimento de tempo e energia por parte da comissão na tentativa de regularizar as pendências. Contudo, a persistência das não conformidades inviabilizou a aprovação. Adicionalmente, cumpre informar que a gestão deste processo foi marcada por comportamentos inadequados por parte do proponente. Tais condutas são inaceitáveis e não contribuem para o desenvolvimento cultural e social de Santo Ângelo”, finaliza.