Minha face quase esquecida

Cheguei! Vim mostrar a minha face outra vez, vim brincar de branquear, de entordilhar as tuas melenas, deixar branco o verde dos campos, das matas, os telhados das casas, o escuro do asfalto, congelar as águas das sangas rasas, até mesmo dos açudes, essa é minha missão, levar-me aos que haviam me esquecido, aproveitei a ocasião para apresentar-me aos novos moradores dos pagos sulinos, aos desconhecidos, tenho muitos recados, lições, ensinamentos, eu sou assim, venho quando quero e apresento-me com a intensidade que eu quiser trazer, sou assim, pouco importa como sou, sou assim…!
A natureza conhece-me, sabe das minhas formas e jeitos de ser, sou alegre com o meu tom esbranquiçado, por vezes, venho comedidamente, noutros, ofereço-me com mais rudeza, outros me veem menos ardido, mais complacente, porém, queiram ou não, sempre fui assim, tantas vezes, recolho-me ao meu esconderijo, por longos tempos, mas retorno feito um intruso, venho a tua janela para falar contido, com os teus pensamentos, para saudar o teu ser, saber se ainda lembras de mim e da minha impiedade, gosto de surpreender, sorrir!
Por vezes, formo um espelho congelando nas aguadas, pela simples razão de oferecer-te um espelho para veres a tua própria fisionomia, tua beleza externa, teus traços, tuas cores e os coloridos dos teus sentimentos, da tua sensibilidade, nobreza, quero ver como estudas a minha presença e minha ausência, porque ambas importam, quanto fiz-me sumiço, tomei ciência que deitastes ironias, fostes falastrão, desta feita, trouxe-te mais motivos e razões para lembrares de mim, também, assim, na minha ausência, poque torno-me irrequieto, ao perceber que zombas na desaparição!
Sou assim mesmo, presente quando menos esperas, impontual em outros momentos, não sou rancoroso, sequer, malvado ou maldoso, gosto de interregnos, simpatizo com vindas inoportunas, adoro vir no contragosto das estações, ocasiões em que ninguém espera por mim, ao apresentar-me com a cara ritualística, não sou festejado, sou apenas eu no meu tempo, isso não faz graça, sequer gracejo, minha presença neste momento está congraçada, todavia, há anos lhes devia um momento mais “açucarado,” vim trazer-lhe o que há de melhor em mim, enfim, sou o frio… buenas para quem havia esquecido de mim!!