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SANTO ÂNGELO
01 de setembro de 2025
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Opinião

24 de agosto

  • agosto 29, 2025
  • 4 min read

Desde a data da primeira receita até o último traço de caneta do dia 24 de agosto de todo ano, em tom melancólico, ele não me sai da cabeça. Aprendi com a professora Mara, na época em que se estudava história do Brasil, na sala 2 da Escola Estadual em Pirapó. Era oitava série, coisa que hoje não existe mais. Nono ano, se chama na contemporaneidade.

Sou aficionado por datas. Felizes ou tristes. Essa, contudo, ultrapassa muitos desvios-padrão da média.Dói-me o coração. Aliás, desculpem-me o aforismo. É o cérebro, e não a bomba, que fatiga este sofrimento, com ares de honraria. Não tenho perfil etário para infarto, ainda. Caso o tivesse, em 1954, provavelmente teria tido um mal súbito.

Toda geração dos anos 30 e 40, ou anterior, inclusive meus avós, lembram muito bem o que faziam naquele fatídico dia. Geralmente as histórias se repetem. As lâmpadas do meu consultório, curiosas que só, sempre que possível fazem esta pergunta àqueles que se queixam, reiteradamente, de problemas de memória sob sua luminosidade.“Seu João, você lembra da notícia da morte do presidente Getúlio?”

A resposta eu já sei de antemão. Sempre envolve um Motor Radio. Coisa que muitos hoje desconhecem. Meu pai tem um há décadas e não desfalece. Comumente com um comando de girar em cada lado, e uma linha horizontal laranjada, que assinalava as frequências AM/FM.  As tecnologias antigas, apesar de por vezes pouco sofisticadas, sempre se mostram duradouras demais.  E eu acho muito bacana essa consistência de qualidade. Por isso valorizo tanto os idosos. Velho hoje é sinônimo de bom.

“Léo Batista entrou ao vivo no meu Motor Radio, doutor”. Esta é a resposta. Só muda o lugar onde os pacientes estavam. Mas sabem exatamente o que faziam naquela manhã. “Estava lascando lenha”. “Estava abrindo minha loja”.“Estava ordenhando as minhas vacas”. “Estava dentro do meu Fusca”.

Isso me comove. Muitas vezes eles não lembram que estamos no ano de 2022, tampouco a hora do relógio ou o que tomaram de café no dia de hoje, mas o que faziam às 8:00 da manhã do dia 24 de agosto de 1954 não lhes sai da memória. Identifico-me. Acordo e vou dormir com ele na mente neste dia a toda volta anual da Terra ao redor do Sol. Perdoem-me os aniversariantes deste dia, mas ele é “brasileiramente” e “missioneiramente” cinza.

Getúlio me é orgulho assim como à toda nossa região, deixando de lado os idealismos políticos. Rompeu com a Republiqueta Velhade troca de favores do Sudeste café com leite e colocou uma cuia de chimarrão no Palácio do Catete. Isso aqui é emocionante demais. Um cidadão da nossa terra. Dos Sete Povos. Meu cérebro fragilizado tem motivo para emocionar-se.

Sabem que todo médico cria suas próprias manias dentro do consultório. Vocês já devem ter percebido. Acho que não só esta classe, mas falo por mim. Eu criei a Escala de Memória de Getúlio. Subjetivamente e em tom pitoresco para graduar a memória dos vovôs que me visitam frequentemente. A maioria passa na prova para meu alívio e emoção.

Sei que foi triste, mas me honra saber a importância deste, que hoje caso vivo estivesse, teria 140 anos. Abreviou seu curso vital. Como muitos hoje, mesmo vivos tem feito, deixando a vida fluir sem encontrar motivos para sorrir e não procurando ajuda médica. Depressão e ansiedade são doenças e existimos, enquanto médicos, para ajudá-los.

Enfim. Esta crônica visou apenas enaltecer o nosso nobre ex-presidente, que continua vivo na minha mente e na dos meus pacientes. Gaúcho. São-Borjense. Para tanto, Missioneiro.

Honraria, Vargas. Aproveita os pampas do céu. Um abraço, parceiro.

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NORBERTO WEBER WERLE

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